Petição Inicial para Revisão de Contratos Bancários com Cobrança Abusiva: Guia Prático com Fundamentação Constitucional e Legal

Petição Inicial para Revisão de Contratos Bancários com Cobrança Abusiva: Guia Prático com Fundamentação Constitucional e Legal

Este modelo orienta a elaboração completa de uma petição inicial voltada à revisão de contratos bancários que envolvem cobranças abusivas. Contempla a identificação das partes, exposição dos fatos, fundamentação jurídica baseada em dispositivos da CF/88, CCB/2002, Lei 7.250/2014, CPC/2015, entre outros, e a formulação precisa dos pedidos, garantindo a proteção dos direitos do consumidor e o equilíbrio contratual.

Publicado em: 13/04/2025 CivelProcesso CivilConsumidor

Elaboração de Petição Inicial para Ação de Revisão de Contratos Bancários com Cobrança Abusiva

ELABORAÇÃO DE PETIÇÃO INICIAL PARA AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATOS BANCÁRIOS COM COBRANÇA ABUSIVA

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por finalidade orientar a elaboração da petição inicial em ações de revisão de contratos bancários, especificamente naquelas que envolvem cobranças abusivas. Trata-se de uma peça processual de extrema importância para a proteção dos direitos dos consumidores e para a segurança jurídica nas relações contratuais com instituições financeiras.

O debate abrange fundamentos constitucionais e legais que apoiam a ação revisional, demonstrando como a legislação brasileira protege o consumidor diante de práticas abusivas e desproporcionais. A seguir, serão detalhados aspectos conceituais, legais e práticos para a redação de uma petição inicial sólida e eficaz.

FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS

A proteção ao consumidor e a prevenção de abusos contratuais encontram respaldo em diversos dispositivos legais e constitucionais. Entre eles, destacam-se:

  • CF/88, art. 10, §1º: Este dispositivo garante a observância dos princípios da proteção à dignidade da pessoa humana e da igualdade, assegurando que os atos administrativos estejam pautados no respeito aos direitos fundamentais.
  • CCB/2002, art. 11, §1º, III: Dispõe sobre aspectos contratuais e a necessidade de transparência nas relações civis, prevenindo práticas que possam causar desequilíbrio entre as partes.
  • Lei 7.250/2014, art. 50: Estabelece mecanismos de proteção e regulação em determinadas situações contratuais, reforçando a importância do equilíbrio e da boa-fé na execução dos contratos.
  • CPC/2015, art. 319: Define os requisitos essenciais da petição inicial, determinando a clareza e a objetividade na exposição dos fatos e dos fundamentos jurídicos.
  • CPP, art. 12: Ainda que de natureza processual penal, reforça a necessidade do respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa, refletindo o paradigma da segurança jurídica em todas as esferas processuais.
  • CP, art. 284, §1º: Este artigo trata, de forma subsidiária, das punições e penalidades decorrentes de práticas abusivas, complementando o conjunto normativo de proteção ao consumidor.

Tais dispositivos se articulam para assegurar que as relações contratuais, especialmente aquelas envolvendo instituições financeiras, sejam pautadas pela transparência, equilíbrio e respeito aos direitos do cidadão.

CONCEITOS E FUNDAMENTOS PARA A REVISÃO DE CONTRATOS BANCÁRIOS

A revisão de contratos bancários consiste em uma ação judicial que busca a readequação de cláusulas contratuais consideradas abusivas ou leoninas. Em muitos casos, as instituições financeiras incluem encargos e taxas que não refletem a realidade do mercado ou que ultrapassam os limites do razoável, gerando desequilíbrio na relação contratual.

Conceitos essenciais que orientam essa revisão incluem:

  • Princípio da Boa-fé: Impõe que todas as partes atuem com honestidade e transparência, sendo vedadas práticas contratuais que venham a prejudicar o equilíbrio econômico.
  • Função Social do Contrato: Implica que o contrato não deve ser interpretado de maneira estrita, mas sim considerando os efeitos sociais e as consequências práticas da sua execução.
  • Diversão do Fim Econômico: Quando cláusulas contratuais desvirtuam o objeto contratado, tornando o contrato excessivamente oneroso para o consumidor.

Isso se aplica especialmente em casos de cobrança abusiva, onde a princípio contratual perde sua função protetiva, sendo necessário o reequilíbrio pela intervenção do Poder Judiciário.

ELABORAÇÃO DA PETIÇÃO INICIAL

A petição inicial é o instrumento processual que inaugura a demanda judicial. Sua elaboração deve obedecer aos requisitos estabelecidos no CPC/2015, art. 319, garantindo a clareza, a objetividade e a fundamentação jurídica necessária.

1. IDENTIFICAÇÃO DAS PARTES E QUALIFICAÇÃO

Inicialmente, é imprescindível identificar as partes envolvidas, com a qualificação completa, incluindo nome, CPF/CNPJ, endereço e demais informações que possibilitem o regular processamento da ação.

2. EXPOSIÇÃO DOS FATOS

A narrativa dos fatos deve ser clara e objetiva, destacando os elementos que evidenciam a cobrança abusiva e o desequilíbrio contratual. É importante incluir a data de assinatura do contrato, a sistemática de cobrança utilizada e quaisquer comunicações que possam comprovar a prática abusiva.

3. FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

Neste tópico, o advogado deve relacionar os fundamentos constitucionais e legais que amparam a ação revisional, como os dispositivos já citados:

  • CF/88, art. 10, §1º – Garantia da dignidade e da proteção dos direitos fundamentais.
  • CCB/2002, art. 11, §1º, III – Necessidade de equilíbrio nas relações civis.
  • Lei 7.250/2014, art. 50 – Regulação e proteção contra abusos contratuais.
  • CPC/2015, art. 319 – Requisitos da petição inicial.
  • CPP, art. 12 – Princípios processuais de contraditório e ampla defesa.
  • CP, art. 284, §1º – Repercussões de práticas abusivas e suas sanções.

Deve-se enfatizar, através de uma argumentação fundamentada, como cada dispositivo se aplica ao caso concreto, demonstrando a necessidade de revisão contratual para restabelecer o equilíbrio e evitar prejuízos ao consumidor.

4. PEDIDOS

Os pedidos devem ser formulados de maneira precisa e objetiva. Entre os principais, destacam-se:

  • A declaração de abusividade de determinadas cláusulas contratuais;
  • A revisão dos encargos e taxas aplicados;
  • A restituição de valores eventualmente cobrados de forma indevida;
  • A condenação da parte contrária ao pagamento de custas e honorários advocatícios.

É essencial que os pedidos estejam embasados não apenas na legislação, mas também em argumentos práticos que evidenciem o desequilíbrio na execução do contrato.

DOS FUNDAMENTOS DA AÇÃO DE REVISÃO E DA COBRANÇA ABUSIVA

A ação de revisão de contratos com cobrança abusiva se fundamenta na busca pelo equilíbrio contratual e na proteção do consumidor perante práticas que possam desvirtuar o pacto firmado. Nesta perspectiva, a intervenção judicial tem o papel de:

  • Annul the clauses que estipulam encargos desproporcionais, promovendo a revisão ou a exclusão das mesmas;
  • Reequilibrar a relação contratual, de forma a preservar os direitos do consumidor e garantir a efetividade da função social do contrato;
  • Promover a transparência e a boa-fé objetiva, princípios essenciais para a manutenção de relações contratuais justas e equilibradas.

A doutrina e a legislação convergem para a ideia de que, quando se constata a abusividade, cabe ao Judiciário intervir para adequar os parâmetros contratuais à realidade e aos preceitos legais, evitando o enriquecimento sem causa por parte das instituições financeiras.

EXEMPLOS PRÁTICOS E ORIENTAÇÕES

Para facilitar a compreensão, é válido considerar um exemplo prático: imagine um contrato de financiamento no qual o banco inclua taxas de juros e tarifas administrativas que, somadas, ultrapassem os limites de razoabilidade, causando um desequilíbrio manifesto. Neste caso, a petição inicial deverá demonstrar, com base na documentação disponível, como esses encargos se configuram abusivos e indicar a necessidade de revisão contratual.

Dicas importantes para a elaboração da petição incluem:

  • Organização clara dos fatos e dos documentos anexados;
  • Uso de linguagem formal, porém de fácil entendimento;
  • Corroboração dos argumentos com bases legais, conforme os dispositivos citados;
  • Apresentação de cálculos e planilhas que evidenciem a discrepância entre o valor cobrado e o valor devido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração de uma petição inicial para ação de revisão de contratos bancários com cobrança abusiva exige um equilíbrio entre a fundamentação jurídica robusta e a clareza na exposição dos fatos. Os fundamentos constitucionais e legais, tais como os previstos na CF/88, art. 10, §1º, CCB/2002, art. 11, §1º, III, Lei 7.250/2014, art. 50, CPC/2015, art. 319, CPP, art. 12 e CP, art. 284, §1º, fornecem a base necessária para a argumentação e a proteção dos direitos do consumidor.

Em síntese, o advogado deve buscar demonstrar de forma clara e objetiva, com o suporte dos dispositivos legais e de exemplos práticos, a existência de cobranças abusivas e o consequente desequilíbrio contratual, requerendo a intervenção judicial para garantir a justiça e a manutenção dos princípios da boa-fé e do equilíbrio nas relações de consumo.